Influências brasileiras caracterizam a rotina dos moradores do Benin
Herança nacional é percebida sobretudo na religião e na gastronomia
Na região africana, a identidade brasileira é visível em diversos segmentos, sobretudo, na culinária: com a feijoada, que antes de se transformar em uma iguaria nacional era um prato característico da senzala; ou com o kosidou, a mandioca ou o milho que fazem parte da dieta local. A relação cultural entre os dois países pode ser vista também nas festas populares, com a comemoração de Nosso Senhor do Bonfim; ou com o folguedo da burrinha, que segundo alguns estudiosos muito se parece com os festejos de boi ainda muito tradicionais em algumas regiões do Brasil.
Segundo Milton Guran, antropólogo e autor do livro “Agudás: os brasileiros do Benin”, quando o antigo escravo retornava, embora ainda fosse um africano, seus laços familiares e sociais já não mais existiam, tornando-o uma espécie de africano “genérico”. “Para conseguir se inserir na sociedade local, os ex-escravos valorizaram sua “estada” no Brasil, único ponto comum a todos eles, que tinham na verdade as mais diversas origens étnicas. É como se a escravatura fosse tomada como ponto de partida para uma nova vida, escolhida miticamente como a nova origem comum. A língua portuguesa e a religião católica eram utilizadas para compor a nova identidade coletiva, que é na verdade a identidade dos brasileiros já estabelecidos na região”, ensina.
Quando se trata de religiosidade, o antropólogo destaca o sincretismo que há entre o Brasil e a África através dos rituais aos “vodouns” (orixás por aqui) ou da festa do Nosso Senhor do Bonfim celebrada na capital do país. “Em Porto-Novo, a festa começa na véspera da missa, com um verdadeiro desfile de carnaval, todo mundo fantasiado e duas grandes bandeiras brasileiras de abre-alas. Canta-se em um português aproximativo, mas também em iorubá (idioma local), sempre cantigas que reafirmam a origem brasileira da festa”, explica.