Influências brasileiras caracterizam a rotina dos moradores do Benin

Herança nacional é percebida sobretudo na religião e na gastronomia

Desfile após a missa em celebração ao Nosso Senhor do Bonfim no Benin (Foto: Divulgação / Milton Guran)Desfile após a missa em celebração ao Nosso Senhor do Bonfim no Benin (Foto: Divulgação / Milton Guran)
saiba mais
Comidas como o acarajé e o inhame e ritmos como o frevo e o maracatu só fortalecem a teoria de que os povos africanos deixaram um significativo legado para a cultura brasileira. Mas será que o efeito inverso também aconteceu? Esta foi uma das perguntas respondidas no programa Ação deste sábado que apresentou a segunda parte do “Ação Especial A Cor da Cultura”. O episódio mostrou mais histórias sobre o Benin, país africano com uma grande concentração de agudás (como são conhecidos nas línguas locais os descendentes dos ex-escravos que retornaram do Brasil para a África).
"Fechuada" à moda beninense (Foto: Divulgação)‘Fechuada’ à moda beninense (Foto: Divulgação)

Na região africana, a identidade brasileira é visível em diversos segmentos, sobretudo, na culinária: com a feijoada, que antes de se transformar em uma iguaria nacional era um prato característico da senzala; ou com o kosidou, a mandioca ou o milho que fazem parte da dieta local. A relação cultural entre os dois países pode ser vista também nas festas populares, com a comemoração de Nosso Senhor do Bonfim; ou com o folguedo da burrinha, que segundo alguns estudiosos muito se parece com os festejos de boi ainda muito tradicionais em algumas regiões do Brasil.

Estandarte da Irmandade Brasileira do Bom Jesus do Bonfim de Porto Novo (Foto: Divulgação / Milton Guran)Estandarte da Irmandade Brasileira do Bom Jesus
do Bonfim de Porto-Novo (Foto: Milton Guran)

Segundo Milton Guran, antropólogo e autor do livro “Agudás: os brasileiros do Benin”, quando o antigo escravo retornava, embora ainda fosse um africano, seus laços familiares e sociais já não mais existiam, tornando-o uma espécie de africano “genérico”. “Para conseguir se inserir na sociedade local, os ex-escravos valorizaram sua “estada” no Brasil, único ponto comum a todos eles, que tinham na verdade as mais diversas origens étnicas. É como se a escravatura fosse tomada como ponto de partida para uma nova vida, escolhida miticamente como a nova origem comum. A língua portuguesa e a religião católica eram utilizadas para compor a nova identidade coletiva, que é na verdade a identidade dos brasileiros já estabelecidos na região”, ensina.

Quando se trata de religiosidade, o antropólogo destaca o sincretismo que há entre o Brasil e a África através dos rituais aos “vodouns” (orixás por aqui) ou da festa do Nosso Senhor do Bonfim celebrada na capital do país. “Em Porto-Novo, a festa começa na véspera da missa, com um verdadeiro desfile de carnaval, todo mundo fantasiado e duas grandes bandeiras brasileiras de abre-alas. Canta-se em um português aproximativo, mas também em iorubá (idioma local), sempre cantigas que reafirmam a origem brasileira da festa”, explica.

Globo