Iansã

Deusa, senhora das paixões, rainha dos raios, das tempestades, vendavais, Iaba do fogo e guerreira. Mãe dos eguns, guia dos espíritos desencarnados, Senhora dos Cemitérios, receba meus pedidos.

Derrame sobre minha matéria, meu espírito, sua proteção, afaste de mim os eguns, espíritos obsessores, tire de meus caminhos a escuridão trazidos por espíritos do mal e me livre das doenças espirituais.

Seu axé despertará em mim mais paixões, seu axé  há de criar em mim novos sentimentos. Me fortalecerá no desejo de amar, tanto na carne como na alma, mais e mais, ter mais desejo sexual. Você me ajudará a ter mais vida para viver meu carma, ter mais sentimento que razão. Fará meu coração bater com mais força, viver com mais emoção a vida.

Que eu possa amar sem ter ciúmes doentio. Que eu nunca tenha inveja sobre ninguém. Que meu amor não seja enlouquecido por uma paixão, mas sim por um grande amor.

Que seu axé não permita que eu tenha medo das armadilhas de meus inimigos. Que eu tenha coragem para caminhar em direção a meu carma, sabendo corrigir meus erros e não me empolgando tanto com os acertos. Que eu comemore a vitória com a mesma alegria de uma derrota, sem ter medo do amanhã, pisando firme no presente, me qualificando para no futuro ser um ser de paz buscando sabedoria e acalmando a alma.

Quando um dia, meu espírito deixar a matéria e reencarnar, minha rainha Iansã, você me levará  para vida espiritual. Você, Iansã, será minha guia, chamará  Obaluaê para conduzir meu espirito a casa do Pai, mostrará a meu espírito o caminho que devo andar. Passarei pelo campo Santo, para a vida eterna. Com seu Eruxin, expulsará os eguns que possam tentar rodear meu espirito.

Me guarde e me livre de todo os espíritos do mal.

Mitologia

Embora tenha sido esposa de Xangô, Iansã percorreu vários reinos e conviveu com vários reis. Foi paixão de Ogum, de Oxaguiam, de Exu, Conviveu e seduziu Oxossi, Logun-Edé e tentou, em vão, relacionar-se com Obaluaê. Sobre este assunto, a história conta que Iansã percorreu vários reinos usando sua inteligência, astúcia e sedução para aprender de tudo e conhecer igualmente a tudo.

Em Ire, terra de Ogum, foi a grande paixão do guerreiro. Aprendeu com ele o manuseio da espada e ganho deste o direito de usá-la. No auge da paixão Ogum , Iansã partiu, indo para Oxogbô, terra de Oxaguian. Conviveu e aprendeu o uso do escudo para se proteger de ataques inimigos, recebendo de Oxaguian o direito de usá-lo. Quando Oxaguian estava tomado pe paixão por Oyá, ela partiu.

Pelas estradas deparou-se com Exu. Com ele se relacionou e aprendeu os mistérios do fogo e da magia. No reino de Oxossi, seduziu o deus da caça, mesmo com os avisos de sua mulher, Oxum, que avisara ao marido do perigo dos encantos de Iansã. Todavia, com Oxossi, Oyá aprendeu a caçar, a tirar a pele do búfalo e se transformar naquele animal, com a ajuda da magia aprendida com Exu. Seduziu o jovem Logun-edé , filho de Oxossi e Oxum e com ele aprendeu a pescar.

Iansã partiu, então, para o reino de Obaluaê, pois queria descobrir seus mistérios e até mesmo conhecer seu rosto (conhecido apenas por Nanã – sua mãe – e Iemanjá, mãe de criação). Uma vez chegando ao reino de Obaluaê, Iansã tratou de insinuar-se:

– Como vai o Senhor das Chagas?

No que Obaluaê respondeu:

– O que Oyá quer em meu reino?

– Ser sua amiga, conhecer e aprender, somente isso. E para provar minha amizade, dançarei para você a dança dos ventos!

(Dança que, por sinal, Iansã usou para seduzir reis como Oxossi, Oxaguian e Ogum).

Durante horas Iansã dançou, sem emocionar ou, sequer, atrair a atenção de Obaluaê. Incapaz de seduzir Obaluaê, que jamais se relacionou com ninguém, Iansã então procurou apenas aprender, fosse o que fosse. Assim, dirigiu-se ao homem da palha;

– Obaluaê, com Ogum aprendi a usar a espada; com Oxaguian, o escudo; com Oxossi aprendi a caçar; com logun-edé a pescar; com Exu aprendi os mistérios do fogo. Falta-me apenas aprender algo contigo.

– Você quer aprender mesmo, Oyá? Então, ensinar-lhe como tratar dos mortos!

De inicio Iansã relutou, mas seu desejo de aprender foi mais forte e, com Obaluaê, aprendeu a conviver com os eguns e controlá-los.

Partiu, então Oyá, para o reino de Xangô. Lá, acreditava, teria o mais vaidoso dos reis e aprenderia a viver ricamente. Mas, ao chegar ao reino do deus do trovão, Iansã aprendeu muito mais que isso… aprendeu a amar verdadeiramente e com um paixão violenta, pois Xangô dividiu com ela os poderes do raio e deu a ela o seu coração.

O fogo é o elemento básico de Iansã. O fogo das paixões, o fogo a alegria, o fogo que queima. Iansã é o Orixá do fogo…

E aquele que dão uma conotação de vulgaridade a essa belíssima e importantíssima divindade africana, é digna de pena e mais digna, ainda, do perdão de Iansã.